Recentemente fui tomado por um sentimento de inquietação. Li manifestações aqui e acolá de anti-Natalismo. Ora, mas o que leva as pessoas a odiarem o Natal? O que as leva a criticar com tanta veemência uma festa de celebração e fraternidade? Uma coisa é um simples não-gostar, outra coisa é repugnar.
Os argumentos que me deram foram dos menos convincentes possíveis. "Ah, é que tem muita hipocrisia nessa época", grita o primeiro blasézinho. Não, meu caro, sinto advertir-lhe de que Hipocrisia não é uma manifestação escatológica que o Papai Noel vai deixando como rastro ao cruzar os céus globalizados. As pessoas podem ser falsas e dissimuladas o ano inteiro. Em homenagem a tais indivíduos, os blasés de boutique, arrisco-me a escrever um texto com considerações sobre a Festa de Ano Novo.
Os argumentos que me deram foram dos menos convincentes possíveis. "Ah, é que tem muita hipocrisia nessa época", grita o primeiro blasézinho. Não, meu caro, sinto advertir-lhe de que Hipocrisia não é uma manifestação escatológica que o Papai Noel vai deixando como rastro ao cruzar os céus globalizados. As pessoas podem ser falsas e dissimuladas o ano inteiro. Em homenagem a tais indivíduos, os blasés de boutique, arrisco-me a escrever um texto com considerações sobre a Festa de Ano Novo.
Apenas para esclarecer, escreverei colocando-me em seus lugares de seguidores de modinha "Emo" a partir do parágrafo a seguir.
"Ah, eu odeio o Ano Novo. Coisa mais chata, sem graça. Ficar com a família vendo pela TV coisas como 'O Show da Virada' (ou seja lá como chamam isso, eu nem assisto TV mesmo, sou muito cool pra isso e para quaisquer outras formas de distração e pensamentos que não sejam originários de minhas idiossincrasias). Quando não é isso, a única escolha é sair com amigos até uma praia e ficar enchendo a cara, pisando em camisinhas à beira-mar, espinhos de rosas de oferendas a orixás ou garrafas de champagne enterradas na areia. Igualmente chato, tudo é chato, pra mim nada basta e qualquer tipo de alegria que não venha de meu próprio corpo já é uma inclinação ao diabólico Capitalismo.
Pois é aí mesmo que queria chegar. Ah, companheiros, pensavam que poderiam criticar o Natal apenas, por toda a Hipocrisia de ter gente à sua volta desejando-lhe felicidade e todos aqueles clichés? A Hipocrisia de ter uma ceia farta enquanto milhares de pessoas estão morrendo pela fome e pela miséria?! A Hipocrisia de vestir roupas novas?! A Hipocrisia de se sentir até minimamente feliz enquanto boa parte do mundo chora em prantos?! Vocês não têm vergonha? Sou eu o último e único a protestar hoje?! Vive la Résistance!
Tudo é Hipocrisia e Capitalismo, devemos lutar contra essas coisas. Aliás, prova de inteligência mesmo é manter um vocabulário que só gire em torno dessas duas palavras, assim como eu. Eu sou inteligente, vocês não. Afinal, o que proponho aqui é que esse meu discursinho de "Ebenezer Scrooge universitário do século XXI" - XXI é 21 em números romanos, para vocês capitalistas burros que não sabem - seja finalmente ecoado mundo afora antes do badalar da meia-noite.
De repente, o ano que tínhamos, 2010, já não serve. Oh não, temos todos de avançar para 2011! Somos todos obrigados a mudar de ano, de calendário, tudo mais! Comprar um novo calendário! Lembro-me de quando meu bisavô me contava suas histórias, do tempo em que o capitalismo não era tão voraz e ele poderia ficar no ano que quisesse por quanto tempo quisesse. Meu bisavô ficou no ano de 1870 por toda sua vida adulta. Assim como alguns iluminados dentre nós ficam nos anos 70 e 80, por sempre a choramingar músicas de Legião Urbana, Balão Mágico, etc. Mas minha geração está perdida, desgraçadamente perdida, burguesamente insana e faminta por dinheiro!
Quero registrar neste meu discurso que sou expressamente contra a mudança de ano, 2010 já foi ruim o suficiente e 2011 seria pior. Pensem em quanto isso irá nos custar, gente! Vamos nos sujeitar a isso? A esse ritual satânico de celebração capitalista? Não, meus companheiros blasés, vamos fazer abaixo-assinados, enviar correntes de e-mail sem fonte oficial e criar uma causa no Facebook e enviar uma carta para as Nações Unidas! Vamos nos mobilizar, gente!
P.S.: Gente, quem tiver um abadá do Camaleão (é nesse que sai a Claudinha Leitte? Sei lá, sou tão blasé que não ligo tanto assim. Escrevi o nome dela certo?), por favor me dê. É que cansei de sair na pipoca e eu não posso comprar - primeiro porque não tenho grana e segundo porque meus companheirinhos blasés de extrema esquerda revolucionária parariam de falar comigo se soubessem que eu dividi o abadá em 70 anos no cartão. Quero sair no bloco no ano que vem, porque se é pra levar cantada de cordeiro fedorento, pelo menos que seja do lado de dentro. Até porque, se eu ficar acessando meu 3G na pipoca alguém pode me roubar e não vou poder xingar no twitter sobre isso depois".