Tuesday 29 June 2010

RESENHA: "A identidade cultural na pós-modernidade"


A identidade cultural na pós-modernidade, escrito em 1992 por Stuart Hall, assemelha-se mais a um guia para compreensão da identidade cultural e sua relação com os indivíduos que a um livro didático de estudos sociológicos. Digo isso não só pelo seu formato diminuto (tem 12x18cm e 104 páginas), mas pelo método explicativo e linguagem adotados pelo autor.

O livro tem seis capítulos, com poucas páginas cada. Nos dois primeiros, Hall introduz o leitor a três concepções básicas do sujeito na História (levando em conta apenas a partir do momento que ele sai da sombra religiosa): o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno; para explicar como este surge e como ele se dissolve na própria era pós-moderna para se tornar o que eu chamo de sujeito pixelizado – aquele que é composto por diversas partículas identitárias que ilusoriamente dão uma forma concreta a um indivíduo e este, por sua vez, se torna um pixel maior que compõe a imagem do local.

No capítulo 3, Hall apresenta os conceitos de nação, cultura nacional e identidade nacional, partindo do ponto de que as culturas nacionais são comunidades imaginárias. Há uma relação de interdependência aqui: o indivíduo busca sua pertinência na imagem do povo nacional e ela necessita da unificação desses indivíduos para ter o sentido que a coletividade fantasia ter. Nos capítulos 4, 5 e 6 o autor trata da Globalização e como ela afeta (infecta, mas não necrotiza) a relação entre o sujeito e sua fabricada identidade nacional, a qual reage ao fenômeno pela inclusão (e conseqüente reforma), subjugação do sujeito, hibridismo (sincretismo ou Tradução) ou resiliência (reforço da Tradição e retorno aos valores de raiz ou fomento do racismo cultural e xenofobia pelo fundamentalismo e ortodoxia).

Hall diz em todos os capítulos o que ele pretende explicar, como ele o fará e em quais conclusões nós (ele e os leitores) chegaremos ao final de cada um. Além disso, as repetições sumárias dos capítulos prévios, que iniciam e infiltram os seguintes, são tão reconfortantes quanto as proferidas pela sedutora voz de Mary Alice Young (Brenda Strong) em "Desperate Housewives". Durante todo o livro, ele usa referências de verbetes e citações de grandes nomes da psicologia, estudos sociológicos e da literatura, sem cair na mesmice de usar palavreados do gueto acadêmico. Entretanto, não é nenhum "Cultural Identity for Dummies!" É uma ótima leitura, sobretudo  para os leitores do tipo Um Homem sem Pátria, K. ou Lobo da Estepe.



A identidade cultural na pós-modernidade
HALL, Stuart. 11a ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.
Título original: The question of cultural identity
Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro

Foto: Capa do livro. Fonte: Submarino.com.br

2 comments:

Luana Marinho Nogueira said...

Me empresta? rs
Brincadeira.
Deu uma saudade de estudar
Sociologia e Antropologia...

Caloan Walker said...

Empresto sim, não há problemas, só me lembre quando começarem as aulas, caso ainda tenha interesse. :D

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