Monday 21 December 2009

O pequeno Skywalker


"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo,
com sabor de fruta mordida"
( "Todo o amor que houver nessa vida", Cazuza)

Você ficou aninhado no meu peito enquanto seus instintos o prenderam lá. Então, de repente, agita as asas silenciosamente e declara que não é mais meu cativo. Lá se foi, a divertir-se pelas vizinhanças, até que um dia encontrou algo reluzente na água que te fez desviar e mergulhar em sua direção.

Era um peixe. Mas que pena, você nunca soube o que era sentir fome - estando tão habituado a ser alimentado ou ao menos ter comida à disposição sempre -, não soube dizer se era o tipo de peixe que gostava ou não. Todavia, se ligou ao dono dele e dias se passaram carregando aquele perfume da amizade no ar. Ele te cativou. Que bem isso lhe fez? Ficou faminto e aquele homem não lhe permitiria saciar-se com aquele peixe, nem lhe proibiria. Um dia você acorda, ambos se mudam e sua fome só diminui com memórias do que poderia ter acontecido.

Você ainda é jovem, pensou, e após um tempo alça-se num vôo de dois dias a uma terra mais ao sul. Você acha que morreu e foi para o Céu. Era tudo perfeito. Você faz de lá a sua casa por mais de dois anos mas sendo o artista blasé que é, vai embora numa saída triunfal, dizendo a si mesmo que é, de fato, jovem demais para prender-se eternamente ao Céu. Você estava era com medo.

No caminho de volta, acha um farol e a comida agora vem em pares. São deixadas de bom grado, mas sempre apenas uma metade te atrai mais. Apesar da ótima hospitalidade, você odiaria ver a comida apodrecer e desperdiçá-la. Sabe que não pode viver lá, não pode morder as mãos que o alimentam. Portanto, só volta lá quando é chamado.

Você pára um momento e vê aqueles que são como você. Quando não conseguem prover para eles mesmos, ou furtam ou buscam restos. De qualquer forma, nunca é possível se satisfazer totalmente, mas dá para viver. As estações passaram e você conseguiu manter um segredo. A fome apareceu de verdade, no instante que você o viu. Mas ele é muito enigmático, você pensou. E se você for abruptamente e a toda velocidade e algo frustra mais outra tentativa, outra esperança?

Aí você vê que a casa fica vazia e o dono mais encantador. É algo mais sedutor que um peixe, e aparentemente mais aconchegante que um farol. Sua fome não é mais traduzida em atrações ilusórias, e a luz não emana do ambiente, mas dele mesmo. Brilha através dos seus olhos castanhos claros e sorriso tímido. Além disso, você se delicia com o som da risada dele. Você toma uma decisão: se a oportunidade aparecer, você contará a ele o seu segredo.

Eis que aconteceu. Você falou. Você tentou. Mas ainda parece ser bem-vindo lá. Mais uma vez, a amizade vence. Três vezes você deixou o amor correr livremente pelas artérias. E eu aqui, escrevendo-te esta carta, que será usada para enrolar seu "peixe com fritas", para lembrar-lhe de sair em retirada antes de voltar a se desdobrar todo por alguém. Eu te segui todo esse tempo, seu imbecil teimoso. Não vai demorar muito e o amor virá te caçar, com mais vigor e mais afiado que nunca. Mas seja mais racional.
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The flying beat


"Set me free
why don't you, babe
Get out of my life
why don't you, babe"
(Song: "You keep me hanging on")

You were nested inside my chest for as long as your instincts held you there. Then, suddenly, you flap your wings silently and declare you're no longer my captive. Off you went, frolicking around the neighbourhood, until someday you found a shiny thing in the water which made you swerve and dive down towards it.

It was a fish. But alas for you, since you never knew what it meant to feel hungry - being so used to be fed or at least offered food whenever -, you couldn't tell whether it was the kind you liked or not. Nevertheless, you bonded with its owner and days went by carrying that scent of friendship in the air. You were captivated by him. What good was that for you? You were hungry and that man wouldn't allow you to feed on that fish, nor would he forbid you. One day you wake up, they both move into somewhere else and your hunger is only sated by memories of what might have been.

You're still young, you thought, and after a while you go on a flight of two days to a land down under. You think you died and went to Heaven. It was all flawless. You make it your home for more than a couple of years but being the nonchalant artist you are, you leave off with a bang, telling yourself you are indeed too young to be settled forever in Heaven. You were actually scared witless.

On your way back, you find a lighthouse and your food now come in pairs. They're laid down for you nicely, but one half is always more appealing. Despite the great hospitality, you'd hate to see food rot and go to waste. You know you cannot live there, you can't bite the hands feeding you. Thus, you only return when summoned.

You stop for a moment to watch those who are like you. When you fail to provide for yourself, you become a rogue, or a scavenger. Either way you are never fully pleased, but you survive. Seasons went by you and you kept a secret from your friends. You were hungry again, all along, from the minute you saw him. But he was too hot and cold, you thought. What if you go veering down at full speed and something foils yet another attempt, yet another hope?

So you see the house become empty and the owner becomes more alluring. It's even more seductive than a fish, and seemingly warmer than any lighthouse. Your hunger is translated into feeble attractions no more, and the light doesn't come from the home, but from his core. It does shine through his clear brown eyes and his timid smile. Plus, you rejoice on the sound of his laughter. You made up your mind: if the opportunity presents itself, you will tell him your secret.

And so it did. You told him, you tried. You still seem to be welcomed there, though. Once again, friendship prevails. Three times you let love run freely through the arteries. And I'm here writing this letter to you, which will be used to wrap up your daily fish and chips, to remind you of retreating before you go bending over backwards for someone else again. I've followed you time and time again, you bloody, stubborn, stupid thing. It won't be long now, love will come hunting you fiercer than before. But be more rational.
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Friday 11 September 2009

Ele...


"You got a reaction, didn't you?" (JW)

Eu tinha uma orquídea branca. Na verdade, eu não a tinha, ela acabou nascendo sabe-se lá como em uma mochila velha que deixara do lado de fora do quarto sob a janela. Coloquei a mochila naquele canto pois ela representava a possibilidade de viajar para longe, e como eu fiquei preso a estas terras ela também deveria ficar. Enfim: mudança nas estações, condições climáticas favoráveis, efeito estufa, blablabla - ela brotou ali.

Uma coisinha verde, frágil, aparentemente débil, como toda outra planta germinando aos poucos. Estranhamente floresceu no inverno, quando eu conheci o senhor Luiz Gasmar. Ele era novo aqui. Ou só quis aparecer daquele momento em diante. Ele contou-me que tornou-se botânico após a morte de uma rosa que ele cultivava com toda sua dedicação. Eu contei a ele sobre a minha orquídea branca.

A orquídea ficava mais bonita a cada minuto. Eu esperava que ela fosse morrer rápido, como todas as outras que já tive por perto. São frágeis demais. Requerem mais atenção que uma rosa. Resolvi mostrá-la ao Luiz Gasmar. Ele não ficou muito impressionado. Preferia as rosas. Perguntei se poderia ajudar-me a cuidar dela mesmo assim. Evasivamente ele dava um ou outro conselho, daqueles "de um e noventa e nove". Isso se eu pedisse com esmero.

Nesse ano o inverno se prolongou. Levei a orquídea até o Luizinho Gasmar, à noite, no fim do seu expediente. A temperatura caindo a cada passo meu. Ao encontrá-lo, estendi-lhe a orquídea. Ele parecia não entender minha mensagem, e a tantos graus desabando quase ao zero, ele decide molhá-la. Ele sabia que iria matá-la.

Deixo o lugar imediatamente, bastante confuso. Ele deveria saber o que faz, mas acabou decidindo ignorar a própria experiência. No dia seguinte, foi me procurar. O clima tenso paralizou a morte da orquídea, que já estava caída. Alguns pedaços jaziam ao seu redor, como um mosaico gótico. O Luizinho Gasmar reconheceu o erro que cometera. Decidiu ajudar-me a revitalizá-la. Pôs ela de pé. Fez alguns ajustes. Ficamos um par de dias cuidando dela.

Tive de retomar minha rotina. Luiz Gasmar me disse que a orquídea branca iria morrer, pois era um ciclo, e eu deveria entender isso. Cada vez que ele dizia isso naqueles dois dias, uma muda da orquídea se insinuava mais e mais próxima à sua matriz. No fim daquele episódio de nossas vidas, dei a muda da orquídea branca para o Luizinho Gasmar. Ele recusou de início, dizendo que já que a minha iria morrer logo, eu deveria ficar com a nova.

O Luizinho Gasmar conheceu muitas rosas, e muitas outras verá. A orquídea que lhe dei pode não ter impressionado o botânico, mas quem gosta das flores percebe a singularidade de uma espécie tão rara, oriunda de apenas um lugar. Ele não a jogará fora, sei disso porque me disse que não faria. Já quase matou uma, não mataria a outra.

Luizinho, meu caro Luizinho. Meu amigo Luiz. Meu belo Luizinho. Meu complicado Luiz. Meu caro amigo belo e complicado, Luizinho Gasmar, quero que saiba disto: a minha orquídea branca não morreu. Para não contrariar seu conhecimento botânico e a lógica da natureza, deixei ela escolher a morte. Mas não quis, foi resiliente. E viverá para sempre pois a pintei de azul.
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Wednesday 26 August 2009

Ele


Demasiadamente difícil aprender a lidar com ele. Uma pessoa cujos aspectos vão desde um bonsai a um pássaro do porto. Poderia ter feito comparações bem melhores que esta, especialmente já que falo do único ser até agora que me fez pensar num relacionamento a dois, ou imaginar como poderia ser, ou ter sido, o amor em circunstâncias de maior maturidade. Mas no fim deste texto ficará claro por que melhores comparações são dispensáveis (para ele).

Acontece que ele é como um bonsai, pois a cada conversa com ele, há de se aparar certas sentenças e cortar assuntos inteiros, para que ele não se sinta em desconforto com o passar dos dias. Se eu insisto em certas coisas, ele induzirá a si mesmo a definhar-se, deixando-me o resto da noite e do dia seguinte a imaginar se morreu para sempre ou se há algum jeito de regar-lhe vida novamente.

Assim como um pássaro de porto, ele sabe os momentos estratégicos de pedir a mínima forma de afeto ao turista (eu) que o encara. Se o observo, fica numa tenaz indiferença. E me olha de volta como todo pássaro faz, sinalizando "Você nunca vai saber até que ponto pode se aproximar, pois decolo sem aviso. Enquanto eu tenho asas e vôo, você só tem suas mãos, e o melhor que pode fazer com elas é escrever".
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Thursday 13 August 2009

Adeus


O café acabara de ser feito e ele já o ansiava. Precisava de sensações a todo instante para esquecer aquilo que ficava cada vez mais claro. Quando o chão entre a cama e o banheiro parava de riscar seus pés, quando a água quente parava de mordiscar seu corpo, quando a textura das roupas parava de alisar seus pêlos, aquele lembrete reverberava em sua mente como se vindo de fora.

Olha pela janela. Tenta ouvir o som dos pássaros no jardim. O vento se antecipa, castiga seu rosto e começa a gritar em seus ouvidos. Esses gritos são como aquele sermão da mãe que diz em consolo e vitória: "Eu te avisei". A música que acompanha o sofrimento: "Hallelujah", na versão de Regina Spektor.

Agora é tarde. Você sabe que falará com ele uma última vez. O remorso é a única força mantendo seus órgãos no lugar. Deveria tê-lo tratado melhor. Deveria ter conversado mais. Deveriam ter sido ainda mais amigos. Deveria ter preenchido todos aqueles momentos mínimos com perfeições livres de culpa. Ele já não diz uma palavra, pois também já previa tudo isso.
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Monday 10 August 2009

The Man Who Sold the World


O. W. Foto: whatdoiknow.typepad.com


Eu não diria que naquele momento eu apenas despertei, pois seria me apegar demais às antigas tradições da sociedade à qual pertencia; diria, no entanto, que conseguir manter o foco nos olhos após uma longa e boa conversa, vinho numa mão e lápis na outra, era uma sensação familiar. Aliás, ficar bêbado é uma Arte neste lugar, como tudo em realidade o é. Pelo menos é isso que vejo, é isso o que me diz aquele que você poderia chamar de "O Criador", pouco antes de se levantar da cama.

Ele tem me ensinado muito desde a minha chegada. Leva-se um certo tempo para compreender essa nova dimensão que experimento desde que morri - se é que algo tão perfeito pode ser entendido através desse termo lamurioso, que evoca tão-só a fatalidade de libertar-se de sua carcaça. Antes que se pense em tal insanidade, deixarei claro: isto aqui não é o Céu ou Paraíso, termos plantados pelo meu jocoso Guia em uma de suas obras que gerou tanta controvérsia no meu (agora) suposto lugar de origem.

Quando o leitor souber o final da História do seu planeta, a Terra, ficará angustiado por não parar de rir, pois aqui não há Tempo, fica-se livre de todas essas amarras sistemáticas e mundanas. Não, o melhor daqui é a liberdade. O próprio Autor dos humanos (como você os conhece) disse-me que Se divertiu muito, com certa perversidade, quando contou a Spielberg que tudo é tão livre ali que Ele poderia inclusive vender-lhe os direitos autorais da Sua obra, 75% OFF. Spielberg havia acabado de sair do Purgatório (como nós ironicamente chamamos aquele lugar), e enquanto esforçava-se para escrever um cheque lembrou-se que não se livrara do asqueroso Capitalismo Fundamentalista. Teve de retornar ao Estágio 01 do Treinamento de Adaptação. O diretor, que num acesso de humor rotulou-se um "has-been", disse que voltar para lá não era tão ruim, já que imaginava sempre e secretamente estar numa orgia na Área 51.

Tenho consciência de que qualquer religioso já teria excomungado este conto assim que terminasse o primeiro parágrafo, mas explicarei minha aparente arrogância. O Criador do qual falo não é a imagem onírica de Deus. Este nunca existiu. Refiro-me ao maravilhoso homem inventor de toda a saga do homo sapiens, por conseqüência o inventor de Deus.

Lembro-me de quando Ele me contou como se deu toda a História que me ensinaram na (agora) fictícia escola. Disse-me ter criado o mundo e o universo quando ainda era imaturo, começou num conto e acabou num romance. Imagina ter sido força do belíssimo ócio, não tem muita certeza, só Se recorda de tê-lo esboçado naquele estado de transe quando não nos submetemos ao sono e tampouco estamos acordados. Perguntei-lhe uma vez se não tinha receios de ser chamado de louco pela complexidade do seu sistema, eis que me é explicado o conceito de loucura deste lugar.

Aqui a Loucura é vista como um ato corajoso da mente, trata-se de se aventurar pelo desconhecido, como adentrar uma floresta à noite sabendo que logo virá a manhã para que seu progresso seja apreciado. É precisamente aquilo que justifica a nossa Inquietação natural. Numa realidade onde tudo é regido por ondas cerebrais, conexões psíquicas, nada seria mais lógico. O crime aqui é ser conformado, não há uma só alma sem traços da tal Inquietação. Nada é óbvio demais, o humor é o mais perfeito, não é preciso explicar piadas toda vez. Todos riem de piadas inteligentes, já que é esse o inevitável caminho de uma rica formação cultural.

Após deleitar-me com essas palavras doces, disse-Lhe sorrindo que achei meio cruel valer-se de privações inexistentes neste lugar e colocá-las na Terra, onde precisávamos de líderes sociais, pois o homo sapiens era demasiado bestial em seu âmago para alcançar o nível mental do homo ars. Todo artista era visto como louco no sentido doentio que a palavra ganhou, ninguém podia viver puramente do seu talento artístico, era tudo feito sob demanda, tudo sempre mirando o chão, nunca o infinito. Sorri por achar genial isso, agora que vivo num Socialismo que cultua o Individualismo dentro da Arte.

Depois de uma boa tarde juntos na rede, perguntei a Ele como julgara sua estadia no próprio mundo que criou. Respondeu com aquela famosa feição sarcástica Dele, eternizada em uma estátua, que não poderia achar mais engraçado ser condenado por uma das coisas que ele mais amava na vida e ser absolvido completamente por outra. Esta última se refere à sua Arte. Aquele sarcasmo me faz tão bem. Ele o usava constantemente, era fã da metalinguagem, por isso enquanto escrevia o conto da Terra, escreveu a Bíblia e outros compêndios dogmáticos, além de peças e novelas ironizando a vida na sociedade inglesa do século XIX. Enchi Seu copo de vinho. Ele me chamou de pseudo-patrício. Eu disse que amava esse lado Dele. Ele me disse que Se baseou em mim quando escreveu sobre Dorian Gray, só que quando me criou esqueceu de adicionar toda a beleza. Respondi que havia ficado satisfeito com o lapso, me ajudara a chegar lá e merecer ficar ao Seu lado.
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Thursday 6 August 2009

Springtime for Kafka

O Processo contra o Lado de Fora




Certa manhã, ao despertar de sonhos intranqüilos, Franz Kafka encontrou-se em sua cama metamorfoseado num monstruoso... homossexual. Metamorfoseado não seria a palavra ideal, pois implicaria em transformação, o que indicaria alteração de um estado anterior do ser e isso seria definitivamente um exagero neste caso.

Eis o ocorrido: Franz Kafka teve uma epifania ao perceber somente então que a suposta cegueira paterna, com relação à sexualidade dos filhos, algum dia é curada espontaneamente. E naqueles tempos o Saramago não andava enlouquecendo-nos com suas verdades ácidas... Ah não. Mesmo que o fizesse, Hermann Kafka não perderia seu tempo lendo, afinal alguém tinha de cuidar dos negócios da família - e Hermann sabia que em casa não tinha outro homem para isso.

Desde que se meteu com a área do Direito, Franz Kafka - o qual a partir deste parágrafo será chamado de "K." - adquiriu a arrogância de achar que ao esconder-se atrás de pilhas e pilhas de processos, ele se veria livre do confronto diário com o pai e com aquele (metafórico) elefante purpurinado sentado à mesa para o jantar, rindo-se de tudo aquilo.

Ora, o pai de K. certamente ouvira, de uma forma ou de outra, de seus noivados com belíssimas donzelas. Nossa, quanto bom gosto esse meu filho tem! E compromisso?! Hah! O verdadeiro homem varonil aproveita a juventude, vira conquistador, deixando as moçoilas em casa a mendigar-lhes a atenção. Eu mesmo só casei porque não teve jeito. O filhão está no caminho certo. Ah, se ao menos a realidade refletisse a verdade...

Como ele faz isso? Que tipo de visão onipotente esse Hermann Kafka haveria de ter? Se me perguntassem, diria que não culpo K. pela sua angústia. Sua mãe acreditava em seu teatrinho, custava ao pai fazer um agradinho também? Afinal, K. nunca pedira para nascer, foi regurgitado por meios vagínicos neste mundo sem autorização! Mas que violação de Direitos Pré-Existenciais! Imagino como o mundo reagirá quando alguém finalmente resolver processar o pai tirano por isso.

Ah sim, os processos, a ejaculação da burocracia. E como K. adorava manuseá-los! Do seu (metafórico) Forte Militar formado por resmas jurídicas, K. imaginava acabar logo com tudo aquilo para curtir a night do seu século com os amigos. Pasmem, meu ex-colega (e flerte secreto) inclusive sonhava em virar uma traça, para poder devorar todos aqueles papéis. Na verdade, não importava qual inseto, desde que se alimentasse daquela terrível e enclausuradora celulose.

Sobretudo por reminiscências como essa eu senti sua falta naquela manhã. Deixei o trabalho e fui procurar meu frágil amigo. Tive fácil acesso ao seu quarto, uma vez que os pais de K. não questionariam um "Oficial de Coisas Jurídicas do Governo". K., atordoado com sua metamorfose, me pediu ajuda; fui pego pelo seu gaydar.

K. sabia que o juri popular foi acionado, alguém já o acusara. Mas quem? Precisava condenar esse difamador para ser absolvido. E eu iria ajudá-lo.



Continua...
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Friday 3 April 2009

With or without you...

Tenho acompanhado o debate sobre a obrigatoriedade do diploma para o curso de Comunicação Social com Jornalismo, com a freqüência que meus estudos permitem. Tenho escutado diversas opiniões sobre o assunto e as respeito desde que tenham uma certa coerência. Contudo, devo dizer que o que foi dito pelo diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais, Ricardo Pereira, não tem tanta coerência assim, em minha humilde opinião, visto que ele havia comparado a expressão artística com a transmissão da informação.


Comunicação não é um manifesto artístico; não é Arte, tecnicamente falando, pois não é algo inerente à alma de cada indivíduo (se o fosse não haveria eremitas, autistas, monges, anti-sociais, etc); é tráfego direto de informação. Óbvio que dirão que a Arte também transmite informação, etc, mas analisemos aqui a Comunicação em sua forma técnica, com todos os conceitos e estudos acadêmicos que separam essas duas áreas, para que não entremos em relativismos estúpidos como dizer que até impressões de diarréia em roupa íntima também podem ser Arte.


Se for o caso de dizer que a obrigatoriedade do diploma para o curso de Jornalismo fere o direito constitucional de exercer a (às vezes utópica) liberdade de expressão, então tiremos também a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão médica. Onde estaria meu direito enquanto cidadão de expressar minha vontade filantrópica de curar meus conterrâneos? Na Grécia Antiga não se tinha diploma para ser médico, nas tribos indígenas (de outrora e de hoje em dia) um pajé não presta vestibular nas universidades federais e ainda assim pode salvar centenas de vidas em sua tribo durante gerações.



Certamente dirão que minha comparação também não tem muita coerência, porém sei que isso se deveria ao fato de a sociedade ter duas áreas como sobre-humanas: a Saúde e a Justiça. Nenhuma comparação deve ser feita com elas. Mas então quero minha pergunta respondida. Eu assisto Grey's Anatomy de vez em quando (uma série de TV sobre a vida de um grupo de médicos em Seattle, nos Estados Unidos) e logo após cada episódio me vem uma inspiração, eu acho bonito quando uma pessoa consegue remover um tumor maligno do cérebro de outra, por exemplo. Eis que nesses cinco minutos após assistir ao programa eu me pergunto se eu seria capaz de fazê-lo também. E se eu quisesse expressar essa minha inspiração e estudar, por conta própria e indefinidamente, a Medicina e exercer a profissão? Por que eu não poderia? Onde estaria a minha liberdade de expressão?



"Ah, mas na Medicina você lida com vidas!", dirão os cegos humanistas que têm medo de analogias, metáforas e comparações (como aqueles que assassinam debates com "É tudo uma questão de gosto", "Gosto não se discute" e "Tudo na vida é relativo"). Pois bem, mas saibam que toda organização, assim como qualquer indivíduo, pode precisar de uma assessoria de comunicação. Quando há um acidente ambiental envolvendo a Petrobras, quem é o responsável por comunicar à sociedade, responder questionamentos e administrar a imagem de uma organização daquele porte? Um médico? Um vendedor de cachorro quente? Não, muito provavelmente um jornalista formado, ou alguém da área de Comunicação. A mídia é o quarto poder, como dizem, e a importância do gerenciamento da imagem de empresas e indivíduos, a qualidade da informação transmitida em qualquer meio, pode sim salvar vidas ou dar sentença favorável ou não a alguém. Se os Nardoni forem provados inocentes, os cidadãos comuns os perdoariam tão facilmente, depois de todo o circo e demonização pelo qual eles passaram por parte da cobertura da mídia sensacionalista?



Uma caridade é esquecida facilmente pelo grande público, mas escândalos são inscritos diretamente na "Bíblia Social".



Com a sede da sociedade por poder e pelos 15 segundos de fama, a sentença desse debate já parece declarada. Muitos serão contra a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo para que eles mesmos possam ser jornalistas por predestinação. Quem sabe assim não aumentarão suas chances de entrarem no Big Brother Brasil? Os programas popularescos ditos "jornalísticos" (aqueles mesmos das musiquinhas de fundo macabras e apelo ao choro fácil) já ganham força por seu freak show, um show de bizarrices e exploração de tragédias que assolam a parcela mais carente da população. E isso com diploma obrigatório.



Por outro lado, a sensação de dinheiro perdido de muitos "freqüentadores de universidades" (aqueles que só fazem parte do corpo discente pois o nome é a única coisa presente nas salas de aula) os afastará do curso, fazendo assim com que as aulas fluam melhor, sem relincho e interrupções desnecessárias. Os alunos de verdade ficarão. Os que querem aprender. Isso poderia ter um efeito imediato, não teria mais de esperar que cada semestre passe para servir de peneira.



Qualquer que seja o resultado, decidi que posso sair ganhando. Com a obrigatoriedade do diploma, poderei exercitar a profissão com segurança, sem medo de que algum(a) gostosinho(a), sobrinho(a) de algum dono de qualquer empresa de comunicação, possa tomar minha vaga com maior liberdade. Sem a obrigatoriedade do diploma, poderei estudar ainda mais, usufruindo das aulas, e futuramente tornar-me um professor universitário, podendo assim continuar com a vida acadêmica.
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Saturday 31 January 2009

Como ser um intelectual brasileiríssimo sem ser afetado pela terrível Crise

Recentemente fui ao Pelourinho e adjacências, tinha de tentar trocar alguns livros que não me agradaram muito por razões que talvez sejam contadas num outro texto. Não consegui o que queria, as condições de trocas e preços ofertados por eles me pareciam um tanto injustos. Fui andando por aquelas ruas históricas, sentindo o cheiro de cajá e umbu sendo indiretamente cozidos sob aquele sol de "quase meio-dia", imaginando quais os motivos para a existência de algumas trapaças, mesquinhas ou não, inocentes ou propositais, naqueles focos de intelecto, que em minha visão romântica não achei (preferi não achar) que pudessem brotar tão naturalmente.

Fatigado (seria o peso da mochila? seria a decepção? seria o calor usual da cidade?), continuei, obstinado, errante, ansioso pelo conforto da virada de sorte que nesta terra vem em forma de ocasionais ventos frios. Passo por lugares-comuns em monumentos, eis que chego, ao entardecer, em uma pracinha perto do Teatro Villa Velha.

Sentei num dos poucos bancos não ocupados pelos desafortunados mendigos. Estava terminando um breve lanchinho, a opção mais barata de enganar o estômago; uma senhora, mendiga como os outros, sentiu uma certa simpatia por mim e aproximou-se. Pediu um pouco do refrigerante do qual só havia tomado um único gole; ofereci-lhe então o copo inteiro, sentindo-me instantaneamente culpado segundos depois por ter dado algo pouco saudável a alguém que estaria há horas com o estômago vazio. Não tive um grande dia e ainda ajudei a piorar a gastrite de uma pobre idosa.

Conversei um pouco com ela (talvez assim ela se esqueceria do mal estar estomacal que sentiria em instantes); ela, como já esperava, perguntou-me se eu era "dos estrangeiro". Respondi-lhe que não - você nasce moreno, com um sinal na testa, e quando não te chamam de árabe ou indiano, certamente atribuem isso a uma porra de uma novela. Enfim, expliquei-lhe o que me acontecera anteriormente e ela percebeu que eu gostava de ler. Ela então vira-se com uma alegria própria de alguém a ponto de gritar "Eureca!" e me diz que eu devo ir mais adiante até encontrar um cara "alternativo". "Ah, a senhora conhece esse termo?", disse eu, ao que ganho como resposta "Oxe, é claro! Daqui há alguns anos, também vou ser promovida a isso!".

Estava de férias. Não tendo mais o que estudar, fui atender o pedido da pequena senhora pré-alternativa. No caminho, pensei em voltar só para agradecer-lhe por mostrar o caminho ao que parecia ser meu futuro "Coelho Branco", mesmo que ela não entendesse essa referência. Encontrei o tal cara alternativo e estava seguro de não ter me equivocado: ele usava uma daquelas camisas indianas, colarzinho de praia, sandálias de couro (ou, como vim a saber mais tarde, "percatas de couro", como chamariam-nas em seu bairro) e fumava seu fiel baseado.

Maravilhado com seu personagem, disse-lhe que havia sido enviado até ele pela senhora Maryanne. Imediatamente ele bradou "Já começou errado, playboy! Pode ir tirando essa porra desse ípsilon daí, isso é coisa de burguês capitalista; tá no Brasil tem que falar Português!". Perguntei-lhe como sabia que havia tal letra em minha fala, ele respondeu que além dos poderes mágicos da maconha dele, ele via que eu não era alternativo como ele, mas que trazia livros, portanto meu caso era gravíssimo.

Meu caso? Adorei isso, sequer tinha idéia de que estava doente. "Sim, em estágio terminal", disse-me meu novo amigo, que refutou seu apelido de Coelho Branco e preferiu ser chamado de Platão do Calabá, ou somente PC.

Não aceitando um diagnóstico simplório, exigi que me dissesse do que sofro e qual é a cura. "Vou falar do que você sofre, mas a cura, a qual saberá só no final de nossa conversa, não poderei te dizer completamente". "Por quê?", pergunto eu, desesperado e inferior. "Porque no clube do qual faço parte, no qual espero que decida entrar, há um código de leis imaculável!".

"Diga logo, homem! Vamos, diga!", disse eu.

"Terei de lhe contar antes como me tornei assim", disse PC, um exato milésimo de segundo antes de sua baforada anuviar o ambiente, de forma teatral e afetada.

"Eu costumava ficar vagando por aqui também, era que nem aquela senhora: um desabrigado. Aí encontrei um cara vestido como estou agora, ouvindo seu MP3 recheado de músicas de reggae e Legião Urbana. Em breve eu também vou comprar meu MP3 para colocar minhas musiquinhas superlegais com um dinheiro que será muito diferente do seu dinheiro capitalista, porque ele será meu dinheiro, dinheiro de intelectual soteropolitano e brasileiro com orgulho.

Então, esse cara se chamava Kyle Washington Pereira Silveira. Ele detestava esse nome, que sua mãe ('aquela idiota, uma mulher ignorante do interior') tão carinhosamente havia lhe dado. Disse-me que detestava tudo escrito em inglês, mas me garantiu que não era por causa da frustração que ele tinha por ser capaz de decorar trechos de filósofos como Schopenhauer e ser incapaz de lembrar-se do 'Verb To Be', o qual lhe foi repetido durante mais de uma década no colégio público, ou de aprender qualquer outra língua. Pediu então que eu o conhecesse somente por Caio Uoshitu Pereira Silveira, pois além de seu primeiro nome soar brasileiríssimo, o segundo soava asiático e todo intelectual deste século terá de se converter aos costumes orientais, de acordo com seu próprio manual intitulado 'Como ser um intelectual brasileiríssimo sem ser afetado pela terrível Crise'. Ademais, para os idiotas e ignorantes (tais quais sua própria mãe) que não saberiam pronunciar seu primeiro nome, ele sempre teria um nome de cachorro.

Caio Uoshitu, com seu drama homérico mais intenso e teatral que qualquer grupo de atores de quaisquer universos possíveis e imagináveis, conquistou minha atenção de mendigo alcoólatra, despertando um sentimento tão forte em meu âmago que me deixou confuso - não sabia se queria peidar para que ele parasse com o teatro ou se era a minha nova paixão: tornar-me um intelectual de butique. Meu ânus não disse nada, então com certeza era a segunda opção.

Caio me disse que a primeira regra de ouro do manual é: 'Se não sabe, finja que sabe'. Brilhantemente ele me disse que isso estava diretamente ligado à Crise que estamos vivendo: ninguém pensante sabe explicar de forma clara como uma crise que começou nos Estados Unidos está nos afetando tremendamente aqui no meu Brasilzão de Ronaldinhos e Pelés, mas todos sabem fingir que sabem. Nós, como intelectuais, temos de nos unir à esperteza daqueles que aumentam os preços de tudo 'por causa da Crise', temos de adquirir o espírito, a malícia, o 'jeitinho brasileiro' tão querido.

A segunda regra de ouro é: ouça Jazz e outros estilos de música que só velhinhos e outros intelectuais ouvem, -"

"Hah! Uma vida de Jazz e bebida! Eles deveriam ouvir esse discurso quando planejavam a campanha de marketing de 'Chicago'", interrompi.

"Porra! Cale a boca! Não podemos citar filmes que não estão na lista dos Filmes para Intelectuais! Isso SE tivermos de ver filme, porque cinema e DVD são coisas de burguês ignorantes!

Então, como eu dizia: ouça essas músicas assim. Se não sabe onde baixar na internet, eu lhe direi assim que você aceitar fazer parte do nosso clubinho, conhecemos um site superlegal cheio dos CDs mais superlegais do mundo. Não importa se você não entende porra nenhuma das letras das músicas porque você não sabe falar nenhuma outra língua além desta. Apenas levante a cabeça e abra os braços quando falar desses estilos, aprenda com a estátua de Castro Alves, aquilo é a perfeição! Isso dá uma aparência de quem sabe o que fala, e é só isso que os outros precisam ver você fazendo.

A terceira regra de ouro é: goste de reggae. O reggae é bom porque você pode se permitir dançar um pouquinho, naquele jeitinho desengonçado de quem tenta reprimir sua vontade de dançar qualquer outra coisa. Ah sim, ainda tem o bônus! Sim, o bônus de afirmar que entende a força política das músicas, mesmo que na letra você só ouça 'Beba Quiki e não beba Nescau', pois o poder revolucionário daqueles que escolhem uma marca inferior de achocolatados para combater a tirania capitalista é simplesmente evidente.

A quarta regra de ouro é: goste de Legião Urbana. Sim, pois veja bem, eles são de lá dos anos 80, sei lá, mas você sabe que alguém mais inteligente e mais velho que você curte, então é sua obrigação gostar. Quem liga para as novas bandas que podem estar tentando conseguir uma vaga no cenário baiano de rock? Quem liga para o fato de que elas poderiam mostrar letras tão boas quanto ou ainda melhores que as de Renato Russo? O saudosismo é fundamental em nossa vida intelectual. Quem liga se você já ouviu 'Pais e Filhos' umas 5.378.987 vezes em vários cantos da cidade? Há sempre espaço em sua mente para a vez número 5.378.988.

A quinta regra de ouro é: vestir-se 'alternativamente'. Ser alternativo é não cair em modismos, por isso a nossa moda consiste nas seguintes peças: camisa 'indiana', de Bob Marley ou de Legião Urbana; colarzinho de praia (basta que seja de palha ou algo que só pareça ser), sandálias de couro (se não quiser ir no centro da cidade para comprar uma pelo risco de ser assaltado, vá numa loja de mauricinho no shopping que lá tem, ninguém vai saber a diferença, é só dizer que a sua não fede a merda de cabra porque você comprou há um ano); a calça, bermuda ou short não fazem tanta diferença, desde que pareçam meio hippies e não mostrem nenhuma marca de grife.

E aí você me pergunta: 'Senhor intelectual, mas e tem mais algum truque no visual?' e eu digo 'Calma, rapaz! Vou te dar mais umas dicas!'. Então, nada de perfumes. Cheiro de intelectual alternativo soteropolitano brasileiríssimo é um só: o de transporte público. Nada de perfumes, isso é coisa de burguês! Você acha que Marx usava perfume? Porra nenhuma, ele cheirava a proletariado, meu filho! Se Marx cheirava a isso, a operários, nós, que estamos sempre pendendo para o Anarquismo e jurando ser de Esquerda, temos de ir além e cheirar a operários enlatados! Ah sim, se puder jogar umas pitadas de terra em suas calças ou bermudas, melhor! Você tem que deixar transparecer um lado ligado à terra mesmo, sabe? Como um sinal de que você ainda não é ativista ambiental, mas pensa no assunto; uma maneira de dizer que também se preocupa com os mendigos e os faz sentirem-se iguais a você (e ainda tem o lado bom de que se você se disfarça assim, eles vão ter pena de você e não vão te assaltar)".

"Mais alguma coisa?", disse eu, entediado.

"Sim, na verdade temos uma sexta regra de ouro: gostar de futebol. Mas nós tivemos de retirar essa, porque cinco sempre parece ser um número mais místico, seis parecia ser muito fraco. Mas também, quem não gosta de futebol não é brasileiro. Bem, você viu que seu destino o trouxe até mim, eu fui iniciado no ritual e busco discípulos. Você irá se unir a nós?"

Houve uma pausa longa. Após uma breve reflexão, desabafei.

"Senhor intelectual, me desculpe, mas terei de recusar sua oferta. Se eu não sei algo, eu simplesmente digo, assim me livro de quaisquer responsabilidades sobre informações falsas. É melhor se passar por burro uma ínfima vez e me redimir com classe depois com um vasto conhecimento. Já ouvi Jazz, até gosto, mas ainda tenho uma forte paixão com relação à música clássica ou instrumental pela liberdade de interpretação. Não curto reggae; não nego sua importância em certos movimentos políticos, falo inglês e compreendo que algumas músicas realmente buscam incitar um certo espírito libertador, mas o arranjo musical em si não me chama muito a atenção, prefiro deixar para aqueles que REALMENTE entendem todo aspecto desse estilo. Não digo que odeio Legião Urbana, apenas enjoei da lavagem cerebral que fazem com toda a população e do olhar de pena que te dão quando você diz que não curte. Além disso, não acho que a voz de Renato Russo seja magnífica. Quanto ao meu vestuário, prefiro optar por algo entre conforto e estética (por mais pessoal que seja). Se me fosse dada uma jaqueta de Giorgio Armani, não a recusaria se me agradasse. Vejo que, na verdade, ganhar o status de intelectualzinho aqui dá muito trabalho e acho que não vale a pena".

"Mas em instantes eles terão uma apresentação de Jazz logo ali, descendo a ladeira, no MAM, eu o apresentarei a todos os meus amiguinhos superlegais e eles nem notarão que você pode ser a ovelha negra!", disse PC.

"Não, obrigado", disse eu.

"Por favor, os Emos estão nos derrotando e correm o risco de quererem se vestir alternativamente como nós! Precisamos de mais membros!", disse PC.

"Vocês e os Emos são as mesmas coisas. Vocês tentam lutar para não transparecerem que na verdade não gostam de tal música ou sequer gostam de futebol, os Emos parecem lutar para esconder que são gays ou que estão passando por aquela fase da adolescência em que questionam suas sexualidades; vocês todos usam clichês e modismos como escudo. Garanto que em breve você vai querer colocar um dread no cabelo ou adotar um estilo rastafari. Eu prefiro fazer minhas próprias merdas sozinho", disse eu.

Voltei para casa irritado com a ironia daquele dia. Eu, que pensava ter "enganado" a senhora com gastrite, fui castigado por ela com a presença de um intelectualzinho. De agora em diante, compro suco quando ando pelo centro da cidade. Acho que vou passar a comprar um sanduíche extra também. E avisarei a qualquer mendigo que lhe pago outro sanduíche, caso tenha dinheiro, só para não ser importunado por um modismo encarnado de novo!
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