Após o último romance que li (“O lobo da estepe”, de Hermann Hesse), busquei uma leitura que me descentralizasse (além de “A identidade cultural na pós-modernidade”, de Stuart Hall). Incidentalmente, “Franny and Zooey” reluz aos meus pés, um de dois exemplares (ao menos em inglês) em toda a loja. Apostei, investi em J. D. Salinger sem medo de perder. Ganhei.
“Franny and Zooey”, publicado em capa dura em setembro de 1961 pela editora Little, Brown and Company (em New York); é uma junção de duas estórias publicadas na revista The New Yorker: “Franny” em janeiro de 1955 e “Zooey” em maio de 1957. Trata-se do casal mais novo dentre os sete irmãos da família Glass – Franny, 20 anos, aspirante a atriz, revoltada com os egos inflamáveis do meio acadêmico que freqüenta, é a primeira parte do livro e nos introduz à parte seguinte, Zooey, 25 anos, ator profissional, usa seu sarcasmo e humor ácido para criar um caos do qual só ele pode extrair a ordem na casa daquela família que, dos sete prodígios, perdeu dois: um, o mais velho, Seymour, por suicídio; o outro, Walt, um dos gêmeos, foi morto em guerra.
Com esses elementos, é natural pensar que é um romance de sofrimento, de fardo, ou algo muito sentimentalista, mas não é o caso. Talvez fosse, com outro escritor. Não quero dizer com isso que sou perito em estilismos literários ou um connoisseur da obra de J. D. Salinger. Tampouco sou um desses intelectualóides que lêem livros só pela grandeza do autor e fingem que estão sempre prontos para ir a um banquete de literatos da Londres do século XIX.
O primeiro livro que li de Salinger foi “The Catcher in the Rye” (“O apanhador no campo de centeio”, no Brasil), pois tinha lido um belo excerto dele no perfil do Orkut de um amigo e, ao visitá-lo em Curitiba, fomos comprá-lo (não o achava aqui em Salvador). Quem já leu sabe que não é livro de culto ou auto-ajuda, sequer tem a intenção de revolucionar a vida de alguém. Mas tem um forte apelo, pode ser até o que chamam de “Leitura de Formação do Indivíduo”; tem uma fluidez narrativa e de diálogo que parecem denunciar sua autoria.
Essa fluidez, essa musicalidade no contar da estória, combina perfeitamente com a temática zen de “Franny and Zooey”. Nada nela é doutrinário, há apenas um debate sobre filosofias e literaturas de religiões como catolicismo e budismo, é também sobre como, onde e se a fé deve ser buscada.
É indiscutível que a música clássica, por sua complexidade, fica gravada em algum canto da nossa mente depois de ouvirmos. Creio que, da mesma forma, os livros realmente bons que lemos ficam impressos em nós mesmos após a leitura. Para celebrar minha leitura deste livro (não é o melhor de todos, mas é ótimo), escrevo esta resenha ao som do Bolero de Ravel, uma sinfonia que ouvi nos primeiros anos da infância (creio que aos 5 anos de idade) e que me acompanhou a vida inteira por ser uma extraordinária marcha que, ao meu ver, conta a história do Começo do Universo e tem em seu Fim a harmonia e o estrondo.
Franny and Zooey
J. D. Salinger
Little, Brown and Company
ISBN-10: 0-316-76949-5
202 páginas
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