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Monday, 25 October 2010

Guia de Anti-ajuda

EDUCANDO PELA MÚSICA

Segunda-feira. De novo. A semana começa e volta a rotina. Esperar o maldito ônibus, superlotado e que cobra mais do que deveria. Rezar para que alguns de seus companheiros de transporte fiquem seriamente doentes, para sobrar um lugarzinho para sentar ou simplesmente apenas porque eles não têm noção de que banho se toma com água e não com desodorante – ou aquele perfume barato que não é igual ao seu. Mais um dia numa sala de aula com gente insuportável, ou num trabalho que não lhe paga o que merece. É óbvio que alguém tem de sofrer junto com você, já que suas preces de nada adiantaram e esse povo insiste em pegar ônibus até com gripe suína. O que fazer? Primeira dica: guarde o fone de ouvido e force todo mundo a escutar as músicas que você quer.

Alguns olham de canto, outros fazem cara feia (muitos nem precisam fazer tanto esforço). Eles parecem realmente não gostar. Doidos para pedir-lhe que diminua o volume, eles se seguram por educação ou por medo. Não importa que o chamem de anti-social, você sabe que estão errados porque esse título só pertence à gente feia e a quem não sabe se divertir. Pior seria tocar aquelas músicas de elevador. Música clássica dá depressão. Você está prestando um serviço comunitário, isso sim! Trazendo alegria em forma de funk carioca, arrocha, pagode e sabe-se lá mais o quê! Aí vem logo à memória o comentário de alguém sobre uma matéria no The New York Times (nem procure saber o que é isto, é importante porque está em itálico e em inglês) sobre os benefícios desses estilos e outros poucos mais que você curte.

Tantos minutos no trânsito infernal, você com medo de mexerem na sua mochila ou de ser molestado sexualmente e ainda aquela criança remelenta chorando no colo da mãe, sentada onde você poderia (deveria) estar. Há duas saídas: elevar o volume ao máximo para abafar o choro, ou reclamar com a mãe que a zoada da criança não está deixando ninguém escutar sua música. O volume vai ao máximo porque a mãe tem cara de quem faz barraco.

Agora digamos que você tenha dado sorte e esteja sentado, mas está muito abafado no ônibus e aquele povinho da colônia barata está bem perto. O que fazer? Volume no máximo, inicie a batucada. Daí para incentivar os outros a cantar junto, é um pulo. Isso é melhor que karaokê. Se você for do tipo macho, acuse os que não gostam, ou se afastam da música, de serem gays. Afinal, eles rebolam quando andam e você apenas quando dança. Se você é do tipo dama e quer manter alguma classe, apenas puxe um papo com o cobrador falando que aquilo é o verdadeiro significado de baianidade e quem não gostar pode sair daqui.

Bem, seus companheiros de viagem são parte da sociedade e muitos usam o máximo de quietude que conseguem achar, no chacoalhar do ônibus rangendo, para refletir um pouco e não se estressarem tanto. Nesse momento, é até lógico pensar que, se você toma atitudes que podem irritar os outros ocupantes daquele espaço, então pode ser chamado de anti-social.

Segundo o minidicionário Sacconi (1996), por exemplo, anti-social se define assim: “1. Que ou quem é hostil às leis e instituições sociais ou a qualquer comunidade organizada. 2. Que ou quem não gosta do convívio social. 3. Que ou quem é desrespeitoso(a) e indelicado(a) com os outros; grosseiro(a); rude”.

Nada tema, porque isso não dá cadeia – melhor ainda, não dá multa. E você talvez nem precise mudar. Se eles não apreciam o seu gosto ou a sua alegria, então provavelmente, ou melhor, certamente o problema está neles. Querem chamá-lo(a) de anti-social? Ora, que chamem! Eles é que são anti-sociais, querendo que você mude. Isso só pode ser inveja. Pois saiba, caluniado(a), que eu lhe escrevo dando dicas de como se comportar diante dos seus opressores mal-educados. Lembre-se sempre: “O maior prazer de todos é sempre o seu, porque você nunca poderá sentir o prazer do outro”.
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Tuesday, 29 June 2010

RESENHA: "A identidade cultural na pós-modernidade"


A identidade cultural na pós-modernidade, escrito em 1992 por Stuart Hall, assemelha-se mais a um guia para compreensão da identidade cultural e sua relação com os indivíduos que a um livro didático de estudos sociológicos. Digo isso não só pelo seu formato diminuto (tem 12x18cm e 104 páginas), mas pelo método explicativo e linguagem adotados pelo autor.

O livro tem seis capítulos, com poucas páginas cada. Nos dois primeiros, Hall introduz o leitor a três concepções básicas do sujeito na História (levando em conta apenas a partir do momento que ele sai da sombra religiosa): o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno; para explicar como este surge e como ele se dissolve na própria era pós-moderna para se tornar o que eu chamo de sujeito pixelizado – aquele que é composto por diversas partículas identitárias que ilusoriamente dão uma forma concreta a um indivíduo e este, por sua vez, se torna um pixel maior que compõe a imagem do local.

No capítulo 3, Hall apresenta os conceitos de nação, cultura nacional e identidade nacional, partindo do ponto de que as culturas nacionais são comunidades imaginárias. Há uma relação de interdependência aqui: o indivíduo busca sua pertinência na imagem do povo nacional e ela necessita da unificação desses indivíduos para ter o sentido que a coletividade fantasia ter. Nos capítulos 4, 5 e 6 o autor trata da Globalização e como ela afeta (infecta, mas não necrotiza) a relação entre o sujeito e sua fabricada identidade nacional, a qual reage ao fenômeno pela inclusão (e conseqüente reforma), subjugação do sujeito, hibridismo (sincretismo ou Tradução) ou resiliência (reforço da Tradição e retorno aos valores de raiz ou fomento do racismo cultural e xenofobia pelo fundamentalismo e ortodoxia).

Hall diz em todos os capítulos o que ele pretende explicar, como ele o fará e em quais conclusões nós (ele e os leitores) chegaremos ao final de cada um. Além disso, as repetições sumárias dos capítulos prévios, que iniciam e infiltram os seguintes, são tão reconfortantes quanto as proferidas pela sedutora voz de Mary Alice Young (Brenda Strong) em "Desperate Housewives". Durante todo o livro, ele usa referências de verbetes e citações de grandes nomes da psicologia, estudos sociológicos e da literatura, sem cair na mesmice de usar palavreados do gueto acadêmico. Entretanto, não é nenhum "Cultural Identity for Dummies!" É uma ótima leitura, sobretudo  para os leitores do tipo Um Homem sem Pátria, K. ou Lobo da Estepe.



A identidade cultural na pós-modernidade
HALL, Stuart. 11a ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.
Título original: The question of cultural identity
Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro

Foto: Capa do livro. Fonte: Submarino.com.br
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Saturday, 31 January 2009

Como ser um intelectual brasileiríssimo sem ser afetado pela terrível Crise

Recentemente fui ao Pelourinho e adjacências, tinha de tentar trocar alguns livros que não me agradaram muito por razões que talvez sejam contadas num outro texto. Não consegui o que queria, as condições de trocas e preços ofertados por eles me pareciam um tanto injustos. Fui andando por aquelas ruas históricas, sentindo o cheiro de cajá e umbu sendo indiretamente cozidos sob aquele sol de "quase meio-dia", imaginando quais os motivos para a existência de algumas trapaças, mesquinhas ou não, inocentes ou propositais, naqueles focos de intelecto, que em minha visão romântica não achei (preferi não achar) que pudessem brotar tão naturalmente.

Fatigado (seria o peso da mochila? seria a decepção? seria o calor usual da cidade?), continuei, obstinado, errante, ansioso pelo conforto da virada de sorte que nesta terra vem em forma de ocasionais ventos frios. Passo por lugares-comuns em monumentos, eis que chego, ao entardecer, em uma pracinha perto do Teatro Villa Velha.

Sentei num dos poucos bancos não ocupados pelos desafortunados mendigos. Estava terminando um breve lanchinho, a opção mais barata de enganar o estômago; uma senhora, mendiga como os outros, sentiu uma certa simpatia por mim e aproximou-se. Pediu um pouco do refrigerante do qual só havia tomado um único gole; ofereci-lhe então o copo inteiro, sentindo-me instantaneamente culpado segundos depois por ter dado algo pouco saudável a alguém que estaria há horas com o estômago vazio. Não tive um grande dia e ainda ajudei a piorar a gastrite de uma pobre idosa.

Conversei um pouco com ela (talvez assim ela se esqueceria do mal estar estomacal que sentiria em instantes); ela, como já esperava, perguntou-me se eu era "dos estrangeiro". Respondi-lhe que não - você nasce moreno, com um sinal na testa, e quando não te chamam de árabe ou indiano, certamente atribuem isso a uma porra de uma novela. Enfim, expliquei-lhe o que me acontecera anteriormente e ela percebeu que eu gostava de ler. Ela então vira-se com uma alegria própria de alguém a ponto de gritar "Eureca!" e me diz que eu devo ir mais adiante até encontrar um cara "alternativo". "Ah, a senhora conhece esse termo?", disse eu, ao que ganho como resposta "Oxe, é claro! Daqui há alguns anos, também vou ser promovida a isso!".

Estava de férias. Não tendo mais o que estudar, fui atender o pedido da pequena senhora pré-alternativa. No caminho, pensei em voltar só para agradecer-lhe por mostrar o caminho ao que parecia ser meu futuro "Coelho Branco", mesmo que ela não entendesse essa referência. Encontrei o tal cara alternativo e estava seguro de não ter me equivocado: ele usava uma daquelas camisas indianas, colarzinho de praia, sandálias de couro (ou, como vim a saber mais tarde, "percatas de couro", como chamariam-nas em seu bairro) e fumava seu fiel baseado.

Maravilhado com seu personagem, disse-lhe que havia sido enviado até ele pela senhora Maryanne. Imediatamente ele bradou "Já começou errado, playboy! Pode ir tirando essa porra desse ípsilon daí, isso é coisa de burguês capitalista; tá no Brasil tem que falar Português!". Perguntei-lhe como sabia que havia tal letra em minha fala, ele respondeu que além dos poderes mágicos da maconha dele, ele via que eu não era alternativo como ele, mas que trazia livros, portanto meu caso era gravíssimo.

Meu caso? Adorei isso, sequer tinha idéia de que estava doente. "Sim, em estágio terminal", disse-me meu novo amigo, que refutou seu apelido de Coelho Branco e preferiu ser chamado de Platão do Calabá, ou somente PC.

Não aceitando um diagnóstico simplório, exigi que me dissesse do que sofro e qual é a cura. "Vou falar do que você sofre, mas a cura, a qual saberá só no final de nossa conversa, não poderei te dizer completamente". "Por quê?", pergunto eu, desesperado e inferior. "Porque no clube do qual faço parte, no qual espero que decida entrar, há um código de leis imaculável!".

"Diga logo, homem! Vamos, diga!", disse eu.

"Terei de lhe contar antes como me tornei assim", disse PC, um exato milésimo de segundo antes de sua baforada anuviar o ambiente, de forma teatral e afetada.

"Eu costumava ficar vagando por aqui também, era que nem aquela senhora: um desabrigado. Aí encontrei um cara vestido como estou agora, ouvindo seu MP3 recheado de músicas de reggae e Legião Urbana. Em breve eu também vou comprar meu MP3 para colocar minhas musiquinhas superlegais com um dinheiro que será muito diferente do seu dinheiro capitalista, porque ele será meu dinheiro, dinheiro de intelectual soteropolitano e brasileiro com orgulho.

Então, esse cara se chamava Kyle Washington Pereira Silveira. Ele detestava esse nome, que sua mãe ('aquela idiota, uma mulher ignorante do interior') tão carinhosamente havia lhe dado. Disse-me que detestava tudo escrito em inglês, mas me garantiu que não era por causa da frustração que ele tinha por ser capaz de decorar trechos de filósofos como Schopenhauer e ser incapaz de lembrar-se do 'Verb To Be', o qual lhe foi repetido durante mais de uma década no colégio público, ou de aprender qualquer outra língua. Pediu então que eu o conhecesse somente por Caio Uoshitu Pereira Silveira, pois além de seu primeiro nome soar brasileiríssimo, o segundo soava asiático e todo intelectual deste século terá de se converter aos costumes orientais, de acordo com seu próprio manual intitulado 'Como ser um intelectual brasileiríssimo sem ser afetado pela terrível Crise'. Ademais, para os idiotas e ignorantes (tais quais sua própria mãe) que não saberiam pronunciar seu primeiro nome, ele sempre teria um nome de cachorro.

Caio Uoshitu, com seu drama homérico mais intenso e teatral que qualquer grupo de atores de quaisquer universos possíveis e imagináveis, conquistou minha atenção de mendigo alcoólatra, despertando um sentimento tão forte em meu âmago que me deixou confuso - não sabia se queria peidar para que ele parasse com o teatro ou se era a minha nova paixão: tornar-me um intelectual de butique. Meu ânus não disse nada, então com certeza era a segunda opção.

Caio me disse que a primeira regra de ouro do manual é: 'Se não sabe, finja que sabe'. Brilhantemente ele me disse que isso estava diretamente ligado à Crise que estamos vivendo: ninguém pensante sabe explicar de forma clara como uma crise que começou nos Estados Unidos está nos afetando tremendamente aqui no meu Brasilzão de Ronaldinhos e Pelés, mas todos sabem fingir que sabem. Nós, como intelectuais, temos de nos unir à esperteza daqueles que aumentam os preços de tudo 'por causa da Crise', temos de adquirir o espírito, a malícia, o 'jeitinho brasileiro' tão querido.

A segunda regra de ouro é: ouça Jazz e outros estilos de música que só velhinhos e outros intelectuais ouvem, -"

"Hah! Uma vida de Jazz e bebida! Eles deveriam ouvir esse discurso quando planejavam a campanha de marketing de 'Chicago'", interrompi.

"Porra! Cale a boca! Não podemos citar filmes que não estão na lista dos Filmes para Intelectuais! Isso SE tivermos de ver filme, porque cinema e DVD são coisas de burguês ignorantes!

Então, como eu dizia: ouça essas músicas assim. Se não sabe onde baixar na internet, eu lhe direi assim que você aceitar fazer parte do nosso clubinho, conhecemos um site superlegal cheio dos CDs mais superlegais do mundo. Não importa se você não entende porra nenhuma das letras das músicas porque você não sabe falar nenhuma outra língua além desta. Apenas levante a cabeça e abra os braços quando falar desses estilos, aprenda com a estátua de Castro Alves, aquilo é a perfeição! Isso dá uma aparência de quem sabe o que fala, e é só isso que os outros precisam ver você fazendo.

A terceira regra de ouro é: goste de reggae. O reggae é bom porque você pode se permitir dançar um pouquinho, naquele jeitinho desengonçado de quem tenta reprimir sua vontade de dançar qualquer outra coisa. Ah sim, ainda tem o bônus! Sim, o bônus de afirmar que entende a força política das músicas, mesmo que na letra você só ouça 'Beba Quiki e não beba Nescau', pois o poder revolucionário daqueles que escolhem uma marca inferior de achocolatados para combater a tirania capitalista é simplesmente evidente.

A quarta regra de ouro é: goste de Legião Urbana. Sim, pois veja bem, eles são de lá dos anos 80, sei lá, mas você sabe que alguém mais inteligente e mais velho que você curte, então é sua obrigação gostar. Quem liga para as novas bandas que podem estar tentando conseguir uma vaga no cenário baiano de rock? Quem liga para o fato de que elas poderiam mostrar letras tão boas quanto ou ainda melhores que as de Renato Russo? O saudosismo é fundamental em nossa vida intelectual. Quem liga se você já ouviu 'Pais e Filhos' umas 5.378.987 vezes em vários cantos da cidade? Há sempre espaço em sua mente para a vez número 5.378.988.

A quinta regra de ouro é: vestir-se 'alternativamente'. Ser alternativo é não cair em modismos, por isso a nossa moda consiste nas seguintes peças: camisa 'indiana', de Bob Marley ou de Legião Urbana; colarzinho de praia (basta que seja de palha ou algo que só pareça ser), sandálias de couro (se não quiser ir no centro da cidade para comprar uma pelo risco de ser assaltado, vá numa loja de mauricinho no shopping que lá tem, ninguém vai saber a diferença, é só dizer que a sua não fede a merda de cabra porque você comprou há um ano); a calça, bermuda ou short não fazem tanta diferença, desde que pareçam meio hippies e não mostrem nenhuma marca de grife.

E aí você me pergunta: 'Senhor intelectual, mas e tem mais algum truque no visual?' e eu digo 'Calma, rapaz! Vou te dar mais umas dicas!'. Então, nada de perfumes. Cheiro de intelectual alternativo soteropolitano brasileiríssimo é um só: o de transporte público. Nada de perfumes, isso é coisa de burguês! Você acha que Marx usava perfume? Porra nenhuma, ele cheirava a proletariado, meu filho! Se Marx cheirava a isso, a operários, nós, que estamos sempre pendendo para o Anarquismo e jurando ser de Esquerda, temos de ir além e cheirar a operários enlatados! Ah sim, se puder jogar umas pitadas de terra em suas calças ou bermudas, melhor! Você tem que deixar transparecer um lado ligado à terra mesmo, sabe? Como um sinal de que você ainda não é ativista ambiental, mas pensa no assunto; uma maneira de dizer que também se preocupa com os mendigos e os faz sentirem-se iguais a você (e ainda tem o lado bom de que se você se disfarça assim, eles vão ter pena de você e não vão te assaltar)".

"Mais alguma coisa?", disse eu, entediado.

"Sim, na verdade temos uma sexta regra de ouro: gostar de futebol. Mas nós tivemos de retirar essa, porque cinco sempre parece ser um número mais místico, seis parecia ser muito fraco. Mas também, quem não gosta de futebol não é brasileiro. Bem, você viu que seu destino o trouxe até mim, eu fui iniciado no ritual e busco discípulos. Você irá se unir a nós?"

Houve uma pausa longa. Após uma breve reflexão, desabafei.

"Senhor intelectual, me desculpe, mas terei de recusar sua oferta. Se eu não sei algo, eu simplesmente digo, assim me livro de quaisquer responsabilidades sobre informações falsas. É melhor se passar por burro uma ínfima vez e me redimir com classe depois com um vasto conhecimento. Já ouvi Jazz, até gosto, mas ainda tenho uma forte paixão com relação à música clássica ou instrumental pela liberdade de interpretação. Não curto reggae; não nego sua importância em certos movimentos políticos, falo inglês e compreendo que algumas músicas realmente buscam incitar um certo espírito libertador, mas o arranjo musical em si não me chama muito a atenção, prefiro deixar para aqueles que REALMENTE entendem todo aspecto desse estilo. Não digo que odeio Legião Urbana, apenas enjoei da lavagem cerebral que fazem com toda a população e do olhar de pena que te dão quando você diz que não curte. Além disso, não acho que a voz de Renato Russo seja magnífica. Quanto ao meu vestuário, prefiro optar por algo entre conforto e estética (por mais pessoal que seja). Se me fosse dada uma jaqueta de Giorgio Armani, não a recusaria se me agradasse. Vejo que, na verdade, ganhar o status de intelectualzinho aqui dá muito trabalho e acho que não vale a pena".

"Mas em instantes eles terão uma apresentação de Jazz logo ali, descendo a ladeira, no MAM, eu o apresentarei a todos os meus amiguinhos superlegais e eles nem notarão que você pode ser a ovelha negra!", disse PC.

"Não, obrigado", disse eu.

"Por favor, os Emos estão nos derrotando e correm o risco de quererem se vestir alternativamente como nós! Precisamos de mais membros!", disse PC.

"Vocês e os Emos são as mesmas coisas. Vocês tentam lutar para não transparecerem que na verdade não gostam de tal música ou sequer gostam de futebol, os Emos parecem lutar para esconder que são gays ou que estão passando por aquela fase da adolescência em que questionam suas sexualidades; vocês todos usam clichês e modismos como escudo. Garanto que em breve você vai querer colocar um dread no cabelo ou adotar um estilo rastafari. Eu prefiro fazer minhas próprias merdas sozinho", disse eu.

Voltei para casa irritado com a ironia daquele dia. Eu, que pensava ter "enganado" a senhora com gastrite, fui castigado por ela com a presença de um intelectualzinho. De agora em diante, compro suco quando ando pelo centro da cidade. Acho que vou passar a comprar um sanduíche extra também. E avisarei a qualquer mendigo que lhe pago outro sanduíche, caso tenha dinheiro, só para não ser importunado por um modismo encarnado de novo!
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Tuesday, 23 September 2008

O Poder Idiótico

Por Caloan Walker

“‘Cada um no seu quadrado, cada um no seu quadrado’, é isso, meus queridos alunos, o que aquele filósofo grego muito doido quis dizer e é essa a base para a nossa filosofia moderna”. Eis que reverbera o grande ensinamento da atual sociedade, palavras proferidas por um professor que personifica momentaneamente toda a sabedoria de uma sociedade idiocrática, provavelmente em um futuro próximo, da qual o filho do leitor terá o privilégio de participar.
A Idiocracia já é uma realidade em uma certa parte da sociedade ocidental. Ela tem fundamentos lindíssimos, inabaláveis, ela seduz e vicia as mentes daqueles que só se preocupam com o mínimo de tudo e que tomam pragmatismo por preguiça estruturada, a preguiça de sair da inércia confortável da fórmula sofá-TV ordinária.
O primeiro – e talvez único – fundamento real da Idiocracia é a ilusória sensação de liberdade trazida pelos principais meios de comunicação. Numa estrutura neo-capitalista é ensinado que o padrão deste lado do mundo é o melhor pelas escolhas proporcionadas. E é instigando aquele sentimento de “eu assisto o que eu quiser e o pobrema (sic) é meu” que se alimenta o regime idiocrático. Todos têm o direito de ver o que quiser e querer o que quiser – exceto quando esses direitos referem-se a condições básicas de vida, esses são chatos e políticos e acabam com a diversão, e por Deus, ninguém jamais iria querer isso.
E diversão é a palavra-chave nisso tudo. Esse “tsunami idiotizante” que assolou a geração de jovens a qual então julgavam não politizada e compostas por rebeldes sem causa, essa adoração ao tosco, ao bizarro vazio, teve como cláusula pétrea a diversão.
Dos EUA importamos o Jackass, programa em que um ser com admirável desprezo pelos limites do ridículo realizava experimentos nele mesmo e em alguns de seus amigos. “Experimentos científicos?” questiona o leitor que ainda pode ler e assimilar informações. Óbvio que não, é tudo pela risada. Vários adolescentes que queriam impressionar o resto do bando se empenhavam em aprender cada truque, muitos foram feridos e alguns mortos, mas morte é assunto sério e desfoca o aspecto principal deste texto. Além disso, enquanto houver um belo chute no saco a cada fim de semana, haverá gargalhadas banhando a dor de um sujeito que poderá nunca mais ter filhos.
Alguns podem até questionar que essa nova epidemia não é um mal completo, afinal nunca se viu tantos anões, travestis, gordinhas, etc., aparecerem na TV para assegurar a dose diária de risos sádicos do telespectador. Afinal, tem coisa mais engraçada que um anãozinho dançando qualquer coisa, especialmente sobre um quadrado? Essas “minorias” serão os coringas daqui para frente, afinal suas formas não se encaixam nos moldes sensuais propagados nos nossos vestíbulos invisíveis.
Sensualidade e erotização são a mesma coisa. Erotizem tudo, desde as crianças aos idosos. Tudo tem que ser e será vendido. Tudo isso é parte do pacote. Há agora cerca de 18 anos desde que o erótico era velado nas músicas, como no pagode. Não, oh não, agora é tudo melhor, tudo mais mastigado e escancarado para que não se perca tempo desvendando metáforas, analogias. Agora a lei é que se o nome da moça for Marieta, imediatamente ponha a mão nas genitálias da mesma.
De agora em diante, pense duas vezes antes de colocar algum nome na sua filha cuja terminação seja “eta” ou “ota”. E como a fascinação brasileira por nádegas é declarada, tome cuidado se pretende colocar o nome da sua filha Marilu, ou ela poderá nunca mais defecar na vida com tantas mãos atrás. Talvez considerem chamá-la de Raimunda para suavizar os danos.
Por outro lado, os pais da “já tão nova e já ninfeta” Raimunda poderiam ficar desprocupados caso esta honre a rima do nome, há sempre uma vaga para moças apetitosas em reality shows e propagandas de cerveja.
“Ah, mas o público-alvo dos fabricantes de cerveja é o homem, tem que ter mulheres mostrando o útero nas propagandas”, ecoa o argumento do fulano – ou fulana – esperto, “e os homens respondem mais a essa linguagem, é a linguagem do povão”.
De fato, ninguém venderia cerveja citando Platão, no entanto faz-se presente a partir deste ponto um outro mandamento idiossincrático do Novo Regime: o racionamento de neurônios. As pessoas ainda acreditam que o cérebro delas é como um disco rígido de computador ou um pen drive, com um limite de informações que podem caber lá, portanto adiciona-se à fórmula a “autofágica” discussão “faz-se assim porque o povão não tem educação” e “o povão não tem educação porque tudo se faz assim”.
Primus não virou febre com um jingle sensacional não-pornográfico? ANobel não está com uma propaganda muito bem-feita sem vulgaridade? O whisky Johnnie Walker não aparece sempre com uma publicidade perfeita? Tudo bem, a Primus pode não ter durado tanto nos comerciais, mas com certeza marcou uma época. E até o povão fica impressionado com as propagandas do Johnnie Walker, pergunte qual marca de whisky eles conhecem. Não se vê o Johnnie Walker tentando lançar a Marieta Walker para vender seu produto aos brasileiros.
A Idiocracia é real e busca suplantar qualquer império. Tem escudos blindados como a “liberdade de expressão”, a “variedade de escolhas” e o “racionamento de neurônios”. O que os futuros responsáveis pelos principais meios de comunicação podem fazer para dar um limite a ela ainda é algo incerto. A única saída para aqueles que almejam a salvação é sentar sua “Raimunda” e estudar até seu “Marilu” doer, buscar inovação e sair dos clichés, etc, antes que ela o pegue, caro leitor, e lhe dê um “créu” na velocidade de 250km/h.
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Wednesday, 8 August 2007

Quindalup

G'day, everyone! This is my first time in a real blog, so I don't know what to do with it. Just thought of writing a bit about this place called Quindalup, in Western Australia. This is a really great place, it's like a little zoo, except it's very cozy and beautiful! You have the kangaroos and wallabies hopping around, you can feed them if you like, they're very tame. They have a really good variety of national birds, a great display of Australia's rich and interesting fauna - of course, being just a mini-zoo from the countryside, it doesn't have all the national animals, but it was nice to find a tropical space there, a very realistic one, to be honest. However, unfortunately, they're closing it down, I don't know why yet, but probably because it's poorly advertised. With this little article I just ask those who ever wished to come Australia, at least in the near future, to go and visit that place so they can continue with the great work they've been up to. There's even a very nice room in which you can touch and feed little birds, they climb up your arms and sing beautifully. It makes you never want to leave.
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