Saturday, 29 May 2010

Por que li este livro ou The Importance of Reading Ernest


Porque durante uma conversa com um amigo meu confessei que sentia falta de ler uma história (conto, romance, que seja) com humor afiado, nos moldes de Martin Page (autor de "Como me tornei estúpido"); algo sutil, que não fosse apelativo e definitivamente não recorresse a bordões ou frases de efeito em excesso. Eis que ele me empresta o livro que teria apresentado em nosso Círculo de Leitura quinzenal.



Por que almocei meu pai ("The Evolution Man, Or, How I Ate My Father"), do jornalista inglês Roy Lewis, foi publicado pela primeira vez no início da década de 1960. É uma história de ficção, narrada pelo homem-macaco (subumano) Ernest, filho do revolucionário Edward, um ser irriquieto, utópico, aterrorizado com a idéia de que sua espécie pudesse ser extinta caso não evoluísse rapidamente. Queria evoluir "em milhares de anos o que deveria evoluir em milhões", segundo seu irmão, chamado de Tio Vanya, o mais cético da família, que abandonou a mulher, Tia Mildred, com a horda do Edward pois ela não sabia subir em árvores.


Edward conseguia conviver com o fogo e usá-lo para aquecer-se nas noites de frio. Tio Vanya achava tudo aquilo um absurdo e expressava sua opinião contrária em toda visita que fazia, enquanto esquentava-se nas beiradas da fogueira. Contudo, aquilo não era o bastante. Edward não queria depender das erupções vulcânicas para manter sua família aquecida. Acabou descobrindo mais tarde como transportar as chamas a duras penas, o que lhe rendeu uma ampla caverna anteriormente habitada por ursos. Todos os animais tinham medo do fogo e agora sua pequena horda ganhava uma vantagem até mesmo sobre predadores perfeitos como os grandes felinos, tirando-os então da condição de carniceiros (como as hienas) e colocando-os na condição de competidores.

As mulheres e as crianças menores ficavam na caverna (que contava até com "varanda" e câmaras para a "despensa" e tudo mais), enquanto saia com seus filhos Oswald, Ernest, Wilbur e Alexander para caçar. Por sua sorte, cada um deles tinha um talento particular - Oswald era excelente na caça em si, Wilbur era ótimo em lascar pedras e melhorar as armas e até Alexander revelou-se o primeiro artista da História ao "aprisionar" a sombra do Tio Vanya com um desenho, deixando este furioso ao constatar que as loucuras revolucionárias do irmão afetaram seu sobrinho. O único que não tinha talento aparente algum era o próprio Ernest. Ernest, o Ocioso. Ernest, o Contestador. Ernest, o Crítico das Inovações Tecnológicas e Cívicas do incompreendido Edward, que para aprimorar mais a espécie, inclusive, forçou os filhos a iniciarem as primeiras uniões exogâmicas da subumanidade.

Ernest foi, no entanto, também o Sensato, além de o Empreendedor. Seu pai, idealista, na velhice ainda encontrava-se resoluto em compartilhar suas descobertas "científicas" com tantos hominídeos quanto possível, para num futuro próspero ir de A a B e encontrar o aconchegante fogo na porta de toda caverna de família. Coube a Ernest mostrar a toda a horda os perigos de divulgar esses avanços a outros, de graça, sobretudo após eles mesmos quase terem sido consumidos pelo incêndio causado por seu pai para provar que ele e o Wilbur haviam finalmente descoberto um jeito de FAZER fogo.

Edward havia jurado não contar a ninguém sobre tal descoberta, no entanto traiu seu grupo após entregar tudo (ou quase tudo) aos habitantes do lugar aonde queriam se mudar - num episódio que parece ter sido forjado. Ernest considera seriamente a sugestão de sua esposa de mandar o velho à "terra dos sonhos" de uma vez depois que seu pai, passado longo tempo sem inovações tecnológicas, o introduz ao segredo da manufaturação de arcos e flechas - o qual seria, obviamente, divulgado a todo mundo após o banquete de celebração. E com o evento tragicômico que foi a morte intencionalmente acidental do pai, Ernest encerra sua autobiografia que explica ao seu filho por que o vovô morava então dentro de cada um deles.

"E aquele foi o fim de Papai em carne e osso, meu filho, um final que ele teria desejado para si - ser abatido por uma arma realmente moderna e ser comido de modo civilizado". (Página 155)

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